segunda-feira, 7 de junho de 2010

E você, sem Deus?


No caminho de casa para o trabalho, em plena turbulência e confusão do transporte público metropolitano, fui desrespeitado violentamente por algum seguidor de Deus, que esfregou Seu poder em minha cara e mostrou-me que eu nada sou sem sua Graça Eterna (ou qualquer uma dessas expressões religiosas das quais não tenho muito conhecimento). A ofensa foi feita através de um adesivo pregado na traseira de um carro, cuja inscrição dizia:

"Deus sem você ainda é Deus. E você sem Deus?"

Respeito muito o fato dos seguidores de Deus não serem nada sem Ele. Sou defensor de liberdades individuais. Asseguraria, caso pudesse, o direito deles serem maquiavélicos. No caso, duplamente maquiavélicos, e ainda tocados pela Santidade: afinal, se os fins justificam os meios, seu Deus domina esse processo pelas duas pontas. Ele é tanto o fim, quanto o começo de tudo. Ou seja, tanto o Alfa quanto o Ômega que habitam em Deus são eficientes justificativas para os meios utilizados pelos crentes em Sua palavra.

Mas essa fé, essa coisa toda enorme e sublime, é, de qualquer maneira, uma escolha. Consciente ou não, social ou não, imposta ou não, inevitável ou não: escolha. Foram eles quem escolheram sua própria invalidez humana e o pouquíssimo controle da própria vida ao louvar uma entidade cuja existência só se prova em manuscritos que - pasmem! - foram escritos por seres humanos. Admiro a Força Divina e a coragem que ela instaura dentro de corações tão fracos que precisam de uma esperança metafísica para seguirem em paz. É coisa muito bonita e poética.

A Bíblia é ótimo documento histórico e um válido registro literário, também. Acreditar cegamente em tudo que ela diz é um direito que todos têm. Longe de mim desrespeitar esse tipo de liberdade. Mas que não venham me dizer que eu não sou nada sem seu Deus, só porque eles não são. A escolha, a fé, o problema, são todos deles. Por que julgam terceiros por causa disso? Isso não é amar ao próximo acima de todas as coisas. Isso é imposição ideológica. Posso não ser lá grande coisa na vida, mas sou alguma coisa. E para essa alguma coisa existir, juro que não precisei acreditar em nenhuma figura autoritária enferrujada que vive no céu e domina toda a minha vida.

Quem diz isso nunca estará próximo nem de Deus, nem de si mesmo. Se Deus ainda é Deus sem eles, quem perdeu foi eles. É a palavra deles que estabelece a existência de um Deus. Eles foram quem criaram esse Senhor, à sua imagem e semelhança. Não tenho nada a ver se com isso (juro por deus!) eles se tornaram fracos ou o quê.

Respondendo a pergunta: eu, sem Deus, ainda sou eu. Vejo-me do mesmo jeito, sinto-me do mesmo jeito, vivo do mesmo jeito. Estou ótimo assim. Existo sem Deus. Sem conflitos. Então repito a pergunta, caro religioso:

"E você sem Deus?"

Deixe-me adivinhar a resposta... Hum. Você não é nada sem Deus. Certo? Então o nada é você, colega; não eu. Simples assim, natural assim. Lide com isso e seja feliz.

Sou:

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I'm your lover, I'm your zero - I'm the face in your dreams of glass.