quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Cinza & fumaça

Ontem eu estava sozinho na avenida paulista, no Center 3, esperando o tempo passar para encontrar uns amigos mais tarde. Completamente à toa. Sou fumante, então é natural e automático fumar em momentos de ócio - para não dizer necessário. Antes dessa psicótica lei anti-fumo, costumava fumar no próprio Center 3, naquela entradinha simpática onde havia cinzeiros e vários fumantes fazendo suas fumacinhas. Só que hoje em dia, se você acender um cigarro por lá, em menos de três segundos um segurança pedirá para você se retirar ou apagar o cigarro. Ou seja, fui fumar no canteirinho do banco Safra, já que não queria ficar na calçada atrapalhando (e sendo atrapalhado!) pela multidão de pedestres.

Sinto um desconforto em ficar sozinho em lugares movimentados, principalmente quando estou em pé. Mas ok, lá estava eu, linda & loira, mp3 ligado tocando "Rome wasn't built in a day" do Morcheeba, tomando meu café mocha do Starbucks, fumando um Lucky Strike e sentindo-me a própria versão masculina e paulistana de Carrie Bradshaw. De repente, um desses mini-malandrinhos de 16 anos veio e me pediu um cigarro. Minha primeira reação naturalmente seria negar a ele um cigarro, uma vez que tenho 20 anos e ele uns 16, ou seja, menor de idade. Não que eu não tenha fumado na minha adolescência também, mas sou tipicamente paranóico e penso sempre que um policial vai me prender por oferecer substâncias lícitas para quem ainda não tem idade legal para poder usá-las.

O problema foi a minha desconfiança. Pensei, sim, que aquele menino poderia me assaltar ou coisa do tipo - não seria absurdo, pelas gírias utilizadas, jeito de abordagem, entre outros aspectos que muitas vezes é preconceito nosso. Meu pensamento, então, foi: "se eu não der um cigarro pra ele, se pá vou ser assaltado". Talvez fosse paranóia, mas não gosto de me arriscar em plena São Paulo, moro há menos de dois anos aqui e no fundo sou um menino do interior ainda meio assustado com as dimensões da metrópole e seus perigos. Dei um cigarro pro moleque. Ele ficou feliz, olhou meu Starbucks e proferiu a seguinte sentença (mais ou menos assim, pois detalhes me fogem à cabeça):

Êêê, grande! Curtindo a vida aí, tomando seu café, fumando seu cigarro... Eu não faço isso, nem compro cigarro. Isso é coisa de gente velha, que nem você. Ops! Não que você seja velho demais, mas você é velho, né? Velho, eu digo, tipo... ah, velho. Você entendeu! Hehe. Valeu.

E saiu andando.

Não tô na crise de me sentir velho demais nem nada, acho besteira ficar me sentindo mal por causa disso, mas foi muito estranho. Emocionalmente estranho. Quando foi que eu deixei de ser o adolescente que fumava escondido e pedia cigarro para os outros? Eu já me tornei o tiozinho simpático e fumante que dá cigarro pra galera, e nem me dei conta disso? Racionalmente entendi perfeitamente a situação, afinal sou velho o suficiente para ser chamado de velho por um rapaz de 16 anos, uma vez que na adolescência poucos anos fazem uma enorme diferença. Porém, minhas minhas emoções me disseram:

Isso é injusto! Sou pouca coisa mais velho que ele!

Fiquei com uma certa raivinha. Quis aquele cigarro de volta, senti que deveria recuperá-lo, não sei. Mas, assim como nós, cigarro depois de queimar vira cinza e fumaça. Nunca volta a ser cigarro.

Sou:

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São Paulo, SP, Brazil
I'm your lover, I'm your zero - I'm the face in your dreams of glass.